É o fim. Não do ano, nem de um relacionamento. É o fim de uma era. Foram 10 anos morando no interior e o equivalente contemporâneo às 10 pragas do Egito como prova para voltar à cidade que me viu crescer.
Enfrentei a ira da minha mãe, que foi contra a mudança desde o inicio (e ainda nem veio me visitar), como se eu estivesse levando seu neto para um campo de concentração. Depois perdi minha empregada, que estava há 8 anos comigo e que era mais essencial do que um marido na minha rotina com um filho pequeno. Mesmo assim, agendei a mudança e desencaixotei sozinha 25 volumes de 1m X 1m ganhando uma hérnia para a minha coleção de dores na lombar. Em seguida veio uma enxurrada de pulgas e pernilongos que me deixou com canela alérgica cheia de cascas de ferida. Mas ferida boa é a que aparece na cara da gente, então fui correr pelo bairro e ralei o nariz e os joelhos na calçada em frente à escola do meu filho. A casa também já alagou com a chuva por conta de uma calha furada, o portão elétrico quebrou e o carro já morreu de manhã com os bicos injetores entupidos. Para terminar, peguei uma gripe com direito a febre e calafrios.
Mas é véspera de carnaval. E meu último sobrenome é o nome de um santo guerreiro (não uso e não digo, adivinhe aí). Então me enchi de remédios e fui descobrir o Parque Villa Lobos. Depois encontrei uma amiga querida e andamos a pé pela Augusta, esbarramos noutro amigo querido (e apaixonado por essa cidade) passeando de bicicleta e seguimos um bloquinho na Vila até chover de ficar ensopada. Não achei um táxi, mas achei que estava perto pra andar na chuva. E o texto foi me levando pelos quilômetros que o Google disse que andei. Descobri que a Natingui tem um trecho grande de subida, agravado talvez pelas 3 cervejas, (4? 5?) e pela congestão nasal.
Em 20 dias, deixei pegadas e sardas pela calçada do meu bairro. Mas agora decorei o telefone do ponto de taxi mais perto. Quem sabe da próxima vez eu ligo?
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