Melhor que não existisse nem a palavra.
Ao inferno com as fotos, aquelas risadinhas cúmplices e esse gosto do melhor bolo de chocolate do mundo.
De repente a rotina expulsa a graça da vida.
De repente a gente empena feito pássaro e tem que sair voando do ninho.
E as cores se perdem, os queridos se vão e a mágica do pirlimpimpim não funciona nunca mais.
A tristeza vai deixando a gente forte pra agüentar cada vez mais tristeza.
Aquele riso alto agora morre de vergonha de acontecer.
A gente vira um chato que não sente mais cócegas.
Ou finge que não com toda a força do mundo.
Posso dizer exatamente quando meu coração começou a enferrujar.
Ela disse que ia morar fora para experimentar o mundo.
Dei de ombros e fiz questão de não ir nem à despedida, nem ao aeroporto.
Macho pra caralho. Comecei a tratar mal todas as mulheres que tive, prevendo que um dia me trocariam pelo novo.
E acontecia tanto que eu nem me importava mais.
E lá se foram 5 anos.
Ontem mamãe ligou eufórica com notícias dela.
Parece que vai mesmo se casar com um cara que conheceu por lá.
Junto com o meu convite, mandou um recado num post it:
- Venha! Vai ter bolo de chocolate.
(Exercício de criação literária proposto por Marcelino Freire num curso seu que fiz no B_arco. Foto de Thiago e Bruna Romaro.)
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