23 de nov. de 2011

Mais um. Menos um.

O relacionamento deles venceu. Em validade, não por mérito.
Começou com cara de perecível, mas bebiam aos golinhos pra ver se durava mais uma semana. E durava. Fazia cócegas no céu da boca feito champagne.
Entorpecia, anestesiava, aguçava a vontade.
Chegou a prometer mais sabor.

Mas sentimento a gente não congela, nem guarda pra depois.
Cada silêncio pesava mais que a distância.
Fingíamos que nada importava e deixávamos o coração de fora.
É só rever as expectativas, esfriar os ânimos, quem sabe?
Mas aí foi ficando abaixo de zero e quanto menos se espera, menos se dá, menos se tem. Pessoas chegam, viagens acontecem, o mundo gira.

Quando lembrou do relacionamento na geladeira, já estava vencido.
Uma pena jogar fora o que a gente não conseguiu desfrutar com gosto.

15 de nov. de 2011

Somewhere

Elas ficaram presas no espelho.
Vindas de três dias de viagem etílica, desmanchadas e desarmadas de vaidade.
Crianças índias murmuram de leve em seus ouvidos surdos.
Suas almas entendem o segredo e voltam a dançar alucinadamente.
A música repete Open your eyes mas seus olhos colados não veem o chão.
Chovem gotas mornas em seus ombros.
Os pés flutuam e elas começam a evaporar.
Mastigam gelo, tragam fumaças alheias e compartilham fluídos.
Labirinto impossível. Não há caminho de volta, nem memória.
O mundo lá fora não chama mais por elas.

Tentam o mar. Entram numa garrafa e vão longe.
Mas não querem ser salvas, querem portos distantes, tatuagens, faróis, naufrágios. Sobem num cavalo marinho e desviam de redes de pescadores.
Pra que voltar? E por quem?
As crianças cantam de novo nos ouvidos.
Ex-índias, agora assopram e descolam seus olhos.
Está tudo claro demais. Tudo dói.
A saída é íngreme e escorregadia.
Agarram o mato com as unhas, choram sem fôlego, matam expectativas e finalmente vão embora de lá montadas no rabo de um dragão.