Num instante muito curto ela sentiu amor e dor. Numa intensidade tão absurda que desmaiou. Acordou no hospital, imobilizada e irada. Diagnóstico: trinca no cóccix.
Devolveu as flores com todos os cabos quebrados, dizendo que gostaria de fazer isso com o pescoço dele. Não sem todos os palavrões que cabiam no verso do cartão.
Ele ligou do quarto ao lado dizendo que já estava tão quebrado quanto as rosas, mas iria até ela pulando feito saci, só pra se desculpar pessoalmente. A voz dele era macia.
Ela duvidou séria e depois sorriu ao vê-lo cumprir a promessa na mesma hora, botando toda a enfermaria do oitavo andar do Einstein atrás dele. Até que não era feio.
Era a primeira vez dele com os patins, confessou. Pegou velocidade demais quando a viu, de medo que ela fugisse. Achou que ao menos ela desviaria de um maluco a toda, que nem brecar sabia direito.
Ela se deixou atropelar, parecia. Sem querer mesmo, de susto com o que sentiu. Também não sabia muito frear. Agora tinha duas semanas de molho, parada ali. Será que ele era casado?
Três meses depois ela voltou aos patins. Já ele, aposentou os seus e fez questão de bancar a fisioterapia dela. Seguro contra terceiros, brincava. O sexo só foi liberado após um mês da alta.
Difícil foi frear a vontade. Impossível se machucarem mais. Doeu descobrir o amor assim de encontrão. Fazer o que? Desembestaram.
(este conto foi parar na vitrine de um site lindo chamado Confeitaria e o link está aqui: http://confeitariamag.com/convidado/crossover/ )
* Imagem: The Library of Congress.
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